O Big Brother Brasil e a Filosofia – “Só sei que nada sei”

Dia 11 de janeiro começará a décima primeira edição do Big Brother Brasil (BBB-11) pela TV Globo.

Impulsionados por sentimentos, desejos e emoções, pessoas de todas as idades, principalmente as mais jovens, acompanharão e incluirão nos assuntos cotidianos a participação dos competidores prolongadamente enclausurados em busca de uma boa compensação financeira.

Os debates do dia-a-dia começam pelas qualidades dos participantes, unanimemente menosprezados no início de cada edição, e chegam até ao intelecto dos que “perdem tempo” em assisti-los e às suas “baixarias”. Os mais bonzinhos vêem os Brothers como inúteis, desocupados, frustrados, fracassados e sem qualquer chance de se destacar através de atividades formais.

Uma análise do BBB10 atribuída ao Veríssimo, recebida por e-mail à época, resumidamente dizia que:

“O Sr. Boninho reuniu no BBB 10 o que Pedro Bial prometeu ao vivo para os espectadores como um “zoológico humano divertido” composto por quinze “animais” com estigmas como: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a nordestina sorridente, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).”

As exposições humanas fascinam e são providas de forte contorno de humilhação. O BBB expõe as fraquezas e os defeitos dos competidores, seus sentimentos bons e ruins, comportamentos reprováveis e de pouco valor intelectual, o estético perversamente sexualizado e as estratégias de maquiavelismo risível.

Todos reclamam dos “horrores” apresentados, mas assistem o BBB e as “eliminações” alcançaram 150 milhões de votos na última edição, eleitorado superior ao que, com voto obrigatório, elegeu a Presidente da República. Isso ocorre porque algo de bom lhes é oferecido.

Aqui fora o BBB provoca uma discussão, em todos os níveis culturais, que envolve moral, ética, justiça interior, cultura, inteligência, sinceridade, honestidade etc. tanto dos competidores quanto dos espectadores. Está aí a filosofia pura que, teoricamente, melhora o nosso interior.

Thibaut de Saint Maurice, um professor de filosofia do ensino médio na França, buscando uma alternativa ao desinteresse e alienação crônicos de seus alunos, utilizou- se dos seriados americanos para envolvê-los em um debate sobre o “raciocínio experimental”. Ele conseguiu dar sentido ao diálogo quando se sentiu como o Dr. House do seriado televisivo de mesmo nome e que da mesma forma tentava explicar suas hipóteses diagnósticas aos colegas do hospital. Perguntou aos alunos se conheciam o Dr. Greg House – imediatamente todos abandonaram seus mundos distantes voltando-se para ele e sua aula – e todos quiseram falar sobre o personagem e suas descobertas diagnósticas, sobre a razão e o experimento.

Thibaut passou a fundamentar com sucesso as suas aulas nas séries de TV e escreveu o livro “Philosophie em Séries” explorando a riqueza das mesmas que seriam um espelho da vida real contemporânea e um reservatório de experiências e situações com as quais muita gente se identifica.
Assim como as Séries de TV, as edições do reality show BBB trazem fortes semelhanças com as situações da vida real de cada um e permitem debates filosóficos internos e externos que englobam valores sociais e impulsionam a exposição de variados pontos de vista sobre a vida e o mundo.A clausura, a ausência de informações externas e o ócio dos participantes que durante o jogo só podem comer, beber, dormir, tomar sol, malhar e fofocar levam os brothers a agirem estupidamente e o público vai ao delírio com as questões banais, picuinhas e bate bocas sem sentido de quem está humilhantemente exposto em rede nacional e psicologicamente desgastado.

Os espectadores esquecem que os participantes, quando fora do BBB, também têm empregos, estudam, saem com os amigos, passam tempo com a família e sonham com um futuro mais próspero, assim como todos nós.

Apesar das evocações do Pedro Bial, não há heróis, e nem mesmo vilões, nas edições do BBB, apenas anti-heróis e pessoas medianas, que retratam uma parte da população brasileira. Dos cerca de 150 participantes de todas as edições, Grazi Massafera (com inteligência destacada na própria edição do BBB), Sabrina Sato (sensual, ar de ingênua e empática) e Jean Wyllys (professor, intelectual e humanista) destacaram-se nas áreas de entretenimento. Os outros, aparentemente, ainda procuram o seu lugar no mundo e, desgraçadamente, alguns o encontraram na delinquência.

Recordista de rejeição do BBB-10, eliminada por 79% do público irritado com suas provocações, viradas de olhos e risinhos debochados que desqualificavam os outros concorrentes, Tessália tentou mostrar outra personalidade e negou tudo que era exibido nas suas imagens do BBB durante entrevista no programa do Faustão.

Faustão mostrou pessoas entrevistadas nas ruas que faziam julgamentos severos e hostis e diziam que falariam tudo aquilo na presença da Tessália. Entretanto, ao virarem e darem de cara com ela, que ali estava colocada estrategicamente e já ouvira tudo, os entrevistados derretiam-se em agrados e elogios. Tal bajulação é vista em relação aos participantes das edições do BBB e é incompreensível para nós que nada de importante conseguimos enxergar neles aqui no mundo real.

Poucos Brothers em todas as edições do BBB conseguiram ferramentas para mostrar conhecimento em qualquer área no decorrer das edições. Prevaleceu o “eu não sei de p…. nenhuma” que na filosofia Socrática é o “só sei que nada sei”.

Enfim, o BBB reforça a nossa velha tese de que “não há nada tão burro que não mereça uma profunda reflexão filosófica, tudo deve ser pensado”.

Ana Luiza Caselato Gomes de Figueiredo – Turismóloga e pós-graduada em ADM pela FGV e Jorge Cesar Gomes de Figueiredo – Psiquiatra.